domingo, 11 de dezembro de 2016

O ciclo da vida


Já estava com cerca de 08 meses de gestação quando um senhor de meia idade me abordou em um supermercado e me disse “Sabe de uma coisa moça, o que eu acho mais lindo nessa vida é uma mulher grávida, sabe por que?” Respondeu imediatamente: “Porque sem vocês nós não existiríamos”. Retribuir com um sorriso o comentário feito por ele e prosseguir a minha caminhada refletindo acerca das palavras daquele senhor.
A grande verdade é que nos acostumamos e até mesmo banalizamos o ato de gerar, quando na verdade não existe experiência mais sublime nessa vida do que uma mulher poder engravidar e dar vida a um outro ser humano.
Ousaria em dizer que não existe maior revelação da existência de Deus do que a maternidade. Não existe nada mais sobrenatural do que todo esse processo de formação de uma criança na barriga de uma mãe, que se inicia com um pequeno embrião.
O trâmite de concepção do bebê é estabelecido em uma sincronia perfeita onde cada semana é responsável pela formação de um detalhe e dia após dia o que era apenas uma substância informe vai tomando a forma de um ser humano completo.
No nascimento, a riqueza dos detalhes impressiona até mesmo a criatura mais cética. Cada substância com a sua função específica, impressiona até mesmo o mais duro coração, é o caso do venix caseoso, aquela pasta branca pegajosa que envolve o bebê ao nascer, que nada mais é do que uma substância que hidrata a pele, evitando que se criem fissuras ou mesmo feridas, em razão do bebê estar exposto ao meio aquático durante tanto tempo.
Nossa! como tudo isso me impressiona, não há como negar que só um Deus Soberano e Perfeito seria capaz de pensar em todos os detalhes.
E a amamentação? Outra coisa divina é essa fase do ciclo da vida. Minha filha de 09 anos observando eu amamentar a irmãzinha
, fez a seguinte reflexão: “Mãe, como é que pode né, um ser se alimentar de um outro ser?”. Dei a ela um singelo sorriso e respondi: É verdade filha.
Definitivamente não há como negar que só a grandiosidade de um Deus Soberano seria capaz de fazer surgir da união entre um homem e uma mulher, um outro ser mesclado de características de ambos e de nos fazer ser tomados por um amor que ultrapassa os limites da razão.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

                                         
             
           A síndrome da perfeição

No início da minha conversão em Cristo, exigia muito de mim, na verdade eu não me permitia falhar. Sentia-me vigiada o tempo inteiro, uma vigilância exercida por mim mesma. Não admitia erros e a cada deslize, ficava deprimida e me penitenciava. Chegava a pensar que eu não era merecedora do amor de Deus, por ser tão falha. Muito jovem e imatura, eu sempre exigia de mim, além do que podia corresponder. Queria me encaixar no estereótipo do cristão perfeito, que fala baixinho e sempre mantêm a calma, quase nunca se irrita e aparenta ser infalível. Mas como corresponder às minhas próprias expectativas de perfeição? Demorei muito para entender que para ser uma mulher de Deus não precisava negar minhas fraquezas e minhas imperfeições.
Muitos de nós temos a idéia, de que para sermos amadurecidos, adultos e respeitados, temos de renunciar a todos os sentimentos e esconder as nossas falhas. Muitas das vezes pensamos que para sermos considerados verdadeiros homens e mulheres de Deus, não devemos nunca admitir uma necessidade ou uma atitude errada. Queremos ter sempre as respostas e sempre parecer que as coisas estão sob controle. “Talvez quando crianças tenhamos sido ensinados que é fraqueza ou covardia admitir os desapontamentos, o sofrimento, a tristeza, o desânimo, a ira ou até mesmo a infelicidade. Mas o que aprendemos foi um conceito errado”, explica Joan C. Webb, autora de vários livros e artigos, entre eles, Meditations for christians who try to be perfect; e The Relief of Imperfection: For Women Who Try Too Hard to Make It Just Right.
Joan menciona o exemplo do rei Davi que ao liderar seu povo, alcançou muitas vitórias e as nações olhavam para ele, portanto, ele cometeu inúmeros erros e experimentou a rejeição de pessoas de sua confiança. Ele sentiu raiva, dor, ciúme, enfim, sentimentos como de todo homem comum. “Davi foi um homem de verdade que se permitiu pensar, sentir e ser. Nos Salmos a sua aceitação da realidade e os sentimentos conseqüentes de desapontamento e dor levaram-no repetidas vezes a Deus. E Ele o chamou de ‘homem segundo o meu coração’ Atos 13:22. ” acrescenta Joan.
Levei muito tempo para entender que Deus não exige que sejamos perfeitos, mas deseja que assim como Davi, tenhamos um coração disposto a acertar e a obedecê-lo. Foi exatamente essa a diferença desse homem que foi considerado ‘segundo o coração de Deus’. Embora tenha falhado muito, cometendo adultério, homicídio, ele sempre teve um coração arrependido e sempre estava disposto a pedir perdão. “Deus está mais interessado na fé e vontade de uma pessoa do que se tomam decisões sem falhas ou produzem planos perfeitos” ensina Joan em Ordinary Human Stuff.

Joan comenta que existem pessoas que acreditam que nunca serão boas o suficiente para que Deus possa usá-las. Há outras, em contrapartida, que pensam que se provarem para Deus que são extraordinárias, Ele as usará em razão dos seus talentos. “Deus não diz: ‘Você é um super-homem, eu ligo pra você’ ou ‘Ela está sempre bem, vou enviá-la. ’ Deus usa as pessoas comuns deste mundo, como eu e você.”, explica.

Não quero fazer apologia ao pecado e a viver uma vida desregrada, mas dizer que para sermos cristãos responsáveis e amadurecidos não precisamos carregar nos ombros o peso de nunca poder falhar. E como diria a música: “Quem se diz muito perfeito, na certa encontrou um jeito para não ser de carne e osso.”
Já vi muitas pessoas que se distanciaram totalmente de Deus simplesmente por não suportarem seu próprio radicalismo e por não terem conseguido corresponder à perfeição que cobraram de si mesmas. Admitir nossos erros e aceitar nossas limitações e imperfeições é um sinal de maturidade e de que estamos prontos para lidar com os nossos sentimentos e das pessoas que estão à nossa volta.
Por Liana Jacinto



domingo, 19 de junho de 2011


                       
                        O PODER DA MÚSICA


   Muitos desconhecem ou até mesmo ignoram o poder de influência que a música pode exercer no estado de espírito do homem. A arte tonal é uma das mais, ou talvez a mais poderosa das artes, capaz de atuar sobre nós de forma a acelerar ou retardar; regular ou desregular as batidas do coração, relaxando ou irritando os nervos e conforme pesquisadores, influindo até mesmo na pressão sanguínea, na digestão e no ritmo da respiração.
   David Tame em seu livro, “O poder oculto da música” nos alerta: “Os poderes da música são multifacetados, às vezes misteriosamente potentes e, até agora, não de todo compreendidos. Podem ser usados ou abusados. Desprezamos o emprego consciente, construtivo, desses poderes em nosso próprio prejuízo. Ignoramo-los para nosso próprio perigo”.
   David explica que hoje em dia é dada pouca atenção à função da música dentro da sociedade, ao contrário do que acreditavam as civilizações antigas. Os chineses, por exemplo, entendiam que a música era capaz de envolver ou degradar completamente a alma do indivíduo; fazer ou desfazer civilizações inteiras. Estavam convencidos de que o indivíduo é capaz de interiorizar a música, influindo desse modo, o ritmo de pensamentos do homem, afetando suas emoções e até mesmo na harmonia de sua saúde corporal.
   Tame nos conta que um antigo imperador da China Shi Shun (2255-2206 a.C) empregava uma forma bem diferente de passar revista em seu reino e certificar-se de que tudo estava em ordem. Não o fazia verificando os livros de contabilidade das regiões ou observando o modo de vida da população, nem tampouco entrevistando os funcionários que tinham posição de autoridade, fazia, portanto, percorrendo os diferentes territórios e experimentando as alturas exatas de suas notas musicais. Embora conhecesse outros métodos para avaliar o estado da Nação, acreditava ser mais importante ouvir e verificar as cinco notas da antiga escala musical chinesa. Ordenava que viesse à sua presença os oito tipos de instrumentos musicais conhecidos na China e que estes fossem tocados. Escutava ainda as canções populares locais a fim de verificar se estavam em harmonia com os cinco tons.
   Na filosofia chinesa a música era a base de tudo, para eles a alma de uma civilização está no tipo de música que nela se executa. Como ficariam os chineses se ouvissem muitas das músicas compostas atualmente em nosso país.
   Superstição primitiva ou não o fato é que atualmente poucos dão à música o seu verdadeiro valor. Muitos a vêem como mero entretenimento, incapaz de causar alguma influência concreta à mente e ao coração do ouvinte. “Nenhum deles a concebia tal como hoje se concebe, como sendo apenas uma forma intangível de arte, de escassa importância prática.” acrescenta David.  Afirmavam os chineses ser a música uma força tangível que pode ser aplicada com o fim de criar mudança, para melhor ou para pior no caráter do indivíduo e sociedade como um todo.
   Se a teoria dos antigos de fato procede, quais danos certas músicas já não terão causado às nossas personalidades sem que tenhamos nos dado conta disso? Se realmente os padrões da música, afetam os padrões da vida, como acreditavam os antigos, seria bom que tivéssemos um maior cuidado ao eleger determinado gênero de música para ouvir, para o bem da nossa própria edificação.
   Perguntar-se-iam os mais céticos, será a música realmente capaz de dirigir e influenciar a natureza emocional do homem? Será ela capaz de afetar o nosso corpo físico?
   Liszt em seu ensaio “Sobre a música de igreja no futuro” nos diz: “A música possui um grande poder de comover e inspirar”. Pesquisas mostram que a música influi na digestão, nas secreções internas, na circulação, na nutrição e na respiração. Até as redes nervosas do cérebro são sensíveis aos princípios harmônicos, afirmam os pesquisadores. “Descobriram os pesquisadores que acordes consonantes e dissonantes, exercem um profundo efeito sobre o pulso e a respiração do homem, influindo na velocidade, regularidade ou irregularidade de seu ritmo. A pressão sanguínea é abaixada pelos acordes ininterruptos e elevada pelos acordes secos, repetidos” declara Tame.
   Aos amantes do jazz e do rock, uma má notícia: pesquisas revelaram que os ritmos irregulares desses dois estilos musicais tiram das batidas do coração seu ritmo perfeito, causando mal à digestão, é contra indicado para quem dirige automóvel, além do que eleva a pressão, sendo nociva em casos de hipertensão preexistentes.
   Para os pesquisadores o fato de determinado ritmo nos agitar ou nos acalmar está diretamente relacionada à maneira com que a freqüência de suas batidas se relaciona com a pulsação cardíaca normal. Por exemplo, um ritmo que tenha um tempo igual ao da pulsação normal do coração, nos acalma, já um ritmo mais lento que a pulsação cardíaca, gera tensão, como se o corpo se preparasse para uma iminente agitação da cadência musical até a cadência cardíaca normal. Em contrapartida, os ritmos agitados, elevam a pulsação cardíaca, provocando excitação emocional, uma vez que, segundo os pesquisadores, ritmos acelerados liberam na corrente sanguínea substâncias químicas que excitam o organismo. Sinto isso todas as vezes que ouço Reaching do Leeland, dá vontade de voar.
   Procedente ou não tais teorias, não há como negar que a música nos afeta de alguma maneira, com o incrível poder de nos emocionar, nos fazendo chorar ou sorrir; trazendo melancolia ou alegria às nossas almas, buscando bem do interior a nostalgia mais profunda e escondida. A música é capaz de despertar no ouvinte diversos sentimentos: excitação e euforia; depressão e melancolia; agitação ou letargia. Quantos não já se sentiram melancólicos logo depois de escutarem determinada canção? A música é capaz de exercer uma influência boa ou ruim sobre as nossas emoções e está longe de ser inofensiva como acreditam alguns.

   Um episódio curioso foi protagonizado pelos Rolling Stones no festival de Altamont, em 1969. Ao tocarem a canção Sympaty for the Devil, o grupo contratado para fazer a segurança do evento, cujo nome bem sugestivo era Hells Angels, atacou violentamente o público num acesso de fúria e muitas pessoas ficaram gravemente feridas e outras morreram. Em entrevista Mick Jagger, afirmou: “coisas assim acontecem todas as vezes que toco essa canção”.
   Não há como negar que o estado de espírito do músico é passado através de sua música e isso nos afeta de alguma forma. Através das composições, parte da consciência do músico é assimilada pelo público. “Os músicos sempre expressam através de suas execuções, o nível de harmonia ou desarmonia psicológica que tem dentro de si. Isso é inevitável. Por mais que tentemos, não podemos deixar de expressar na música a realidade do nosso estado interior, ainda que de maneira muito sutis” afirma Tame. O músico sempre expressará através de sua arte aquilo que de fato acredita, não há como fugir disso.
   Acredito que a música tem um imenso poder de nos afastar ou de nos aproximar de Deus. Além do que, é capaz de conduzir a nossa mente para pensamentos bons ou ruins, fazendo fluir do nosso interior sentimentos nobres ou decadentes, capaz de tocar fundo a nossa alma. A música tem o poder de nos fazer rememorar o passado, relembrando situações que aconteceram há anos, brotando do nosso interior os mais profundos sentimentos. Há canções revigorantes que enchem o nosso espírito de regozijo e paz, há portanto, aquelas que nos deixam vazios e de espírito abatido.  Como asseverou Howard Hanson, diretor da Eastman School of Music: “a música pode ser calmante ou revigorante, enobrecedora ou vulgarizadora, filosófica ou orgíaca. Tanto tem poderes para o mal quanto para o bem”.  
Por Liana Jacinto

segunda-feira, 2 de maio de 2011

                                                           Foto: Paulo Soares           
    Mês das noivas
Maio já chegou em clima de celebração. Os americanos que comemoram a morte de Bin Laden; a torcida rubro-negra que festeja o título invicto do Campeonato Carioca de 2011, e por que não citar o casamento do príncipe William e Kate, que embora tenha acontecido no finalzinho de Abril, servirá de inspiração para muitos casais que pretendem contrair núpcias no mês que se inicia. Enfim, maio é tempo de comemorar. Celebrar a esperança, o romantismo dos casais apaixonados e a plenitude do amor que se revela na relação mãe e filho. Afinal para quem não sabe, maio é considerado o mês das noivas e também o mês das mães.
 Há quem diga que essa tradição tenha sido importada dos países do hemisfério norte, onde maio é um mês muito importante para os costumes populares. Naquela parte do mundo o início de maio é celebrado com muitas flores em homenagem à natureza que refloresce e a primavera que atinge sua plenitude. Ao longo dos séculos esses elementos foram sendo associados à celebração do amor e do casamento. Essa relação com as flores e a feminilidade também fez de maio o mês das mães.
Já que estamos no mês das noivas, gostaria de tecer alguns comentários a respeito do assunto. Embora muitos afirmem que o casamento é uma instituição falida, acredito no matrimônio como o propósito de Deus para o homem na terra. “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” Gn. 2:24.
Vivencio quase que diariamente situações de pessoas que há pouco tempo se amavam e agora se odeiam, afinal trabalho em uma vara de família onde o número de divórcios é assustador. Talvez seja essa a razão do casamento está caindo em descrédito, uma vez que cresce a cada dia os índices de casais que recorrem à justiça para se divorciarem. Acredito, portanto, que nunca devemos tomar como exemplo para nós, os fracassos dos casamentos dos outros.
Há quem diga que a sociedade está mudando e com ela os costumes e comportamentos também. Dizem que as formas de pensar, de agir e de viver estão se “modernizando”, mas esquecem-se que os princípios de Deus são imutáveis.
Creio sim que o casamento foi instituído por Deus e é abençoador na vida do homem e da mulher. “O Matrimônio simboliza a união de duas pessoas, para o cumprimento do propósito de Deus: a perpetuação da humanidade”, reprodução da frase dita pelo bispo de Londres Richard Chartres, que proferiu o sermão no casamento do príncipe William e Kate.
Fico muito feliz quando recebo a notícia de que alguém vai se casar, este é um assunto que sempre me interessa, mesmo que eu não seja convidada para a cerimônia. Fico imaginando o vestido da noiva, o glamour da noite, a lua-de-mel, os dias que se sucederão na vida de mais um jovem casal. Sempre lembro do meu dia de noiva, acho que na vida de uma mulher esse um dos dias mais importantes.
É interessante ver como com os passar dos anos de convivência, ficamos parecidos (um com o outro). Os pensamentos, a forma de falar, até mesmo de agir. Conheço casais que até mesmo na forma de sorrir se parecem. Sei que muitos pensarão: “isso é perda de identidade”, não vejo assim, acho que isso se chama “sintonia”. É claro que isso não é uma regra, existem casais que com o passar dos anos menos se parecem e menos se entendem, acredito que essa deveria ser uma forma de medir se um casamento vai bem.
Quando estava pra casar passei por um curso de noivos que me fez entender muitas verdades sobre o matrimônio. Entendi que quando estamos dispostos em cumprir o propósito de Deus, Ele abre as portas para nós e supre todas as nossas necessidades. Pude ver isso se cumprir na minha vida. “Quem encontra uma esposa acha uma coisa boa; e alcança o favor de Deus”, Pr. 18:22. Entendi ainda que ao homem foi atribuída a incumbência de dá nome à mulher.“ Então, o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o Senhor tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe. E disse o homem: Esta, afinal é osso dos meus ossos e carne da minha carne, CHAMAR-SE-Á, varoa, porquanto do varão foi tomada.” Gn. 2: 21-23   
O casamento nada mais é que uma aliança firmada entre o homem, a mulher e Deus e embora o mundo pregue que se tornou desnecessário e coisa do passado, nós cristãos que acreditamos em um Deus vivo e imutável que instituiu o matrimônio desde o Éden, devemos nos levantar e fazer a diferença em meio aos modismos que permeiam a sociedade do descompromisso, não nos deixando contaminar pela idéia de que o casamento ficou demodê.
Por Liana Jacinto

domingo, 27 de fevereiro de 2011



                           A arte de calar

    Caro leitor, você acredita que a sabedoria de um homem está no discurso impecável que possa fazer ou no fato de conseguir dominar os seus impulsos e aprender a ouvir?

    Por muito tempo fui mal compreendida por falar tudo que vinha à cabeça, como diria minha avó “falava mais do que a nega do leite”. A verdade é que eu falava pelos cotovelos. Falar para mim parecia um impulso incontrolável. Aqueles que têm um temperamento menos contido sabem exatamente o que estou dizendo.

    Aprendi a duras penas a dominar os impulsos que me levavam a opinar a respeito de tudo. A convivência com meu esposo me ajudou bastante nesse processo de autocontrole.

    O texto intitulado “A arte de calar” do abade francês Joseph Antoine Toussaint Dinouart, foi crucial no meu aprendizado de ouvir mais e falar menos. O texto é de uma sabedoria incrível. Com ele aprendi “que só se deve deixar de calar quando o que se tem a dizer vale mais do que o silêncio”, portanto, se você não tem algo de bom para dizer para uma pessoa, é melhor permanecer calado. Quem nunca foi vítima de um comentário infeliz:  “mas como você tá gorda (o)”.

    Joseph também ensina que o homem nunca é tão dono de si mesmo quanto no silêncio. Fora dele, derrama-se, para fora de si, dissipando-se pelo discurso, de modo que passa a pertencer menos a si mesmo e mais aos outros.

    O clérigo também explica que quando temos uma coisa importante para dizer devemos prestar a ela uma atenção especial, dizendo a priori a nós mesmos e somente depois de tal precaução, voltar a dizê-la, evitando assim arrependimentos, quando já não se tiver mais o poder de voltar atrás no que foi declarado, afinal, somos senhores das palavras que não pronunciamos e nos tornamos escravos daquelas que proferimos. Complementa Mahatma Gandhi: “O homem arruína mais as coisas com as palavras do que com o silêncio”.

    Joseph acrescenta dizendo: “a reserva necessária para guardar o silêncio na conduta geral da vida não é uma virtude menor do que a habilidade e a aplicação em bem falar”. Para ele não há mais mérito em explicar o que se sabe do que em calar o que se ignora.

    O abade finaliza dizendo que o silêncio é necessário em muitas situações, porém é necessário manter sempre a sinceridade. Segundo ele, pode-se reter alguns pensamentos, sem, contudo camuflá-los. “Há maneiras de calar, sem, contudo fechar o coração; de ser discreto sem ser sombrio e taciturno; de ocultar algumas verdades, sem as cobrir de mentiras” acrescenta.

    Considerando as coisas de um modo geral, o certo é que, há menos risco em permanecer calado do que em falar tudo que vem à nossa mente. Quem nunca pensou que cometeu excessos em uma conversa com alguém? “O silêncio é uma das coisas em que geralmente, não há excessos a temer”  ensina Dinouart.

    Devemos nos lembrar que a imensurável sabedoria de Deus nos fez com uma só boca e com dois ouvidos a fim de estarmos sempre prontos para ouvir e tardios para falar. Afinal, palavras são sementes. Como diria Carlos Drummond de Andrade “Saber ouvir é um raro dom, reconheçamos. Mas saber calar, mais raro ainda”.

Por Liana Jacinto

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Rain
Não sei por que esse tempo de chuva traz um ar de melancolia mas de nostalgia também. O céu nublado resgata da minha memória lembranças da infância que os anos jamais trarão de volta.
Acredito que a chuva tem uma conotação diferente para cada pessoa, dependendo da história de cada um. Para mim especificamente ela representa um tempo de isolamento e reflexão mas representa também um tempo de medo e apreensão.
Lembro quando eu era criança, tinha por volta de uns 9 anos, houve um terrível vendaval em São Luis-Ma. Muitas casas foram atingidas no bairro em que eu morava com meus pais, então todas as vezes que o tempo nublava um medo assustador tomava conta do meu coração e eu me escondia dentro do guarda roupas, como uma borboleta dentro do seu casulo. Com o passar dos anos esse trauma foi sendo apagado, mas talvez seja essa a razão da minha relação pouca amistosa com o período chuvoso. Não são apenas lembranças ruins que tenho da época chuvosa, lembro também das brincadeiras de crianças despreocupadas no meio da rua.
Essa dualidade de sentimentos me deixa ilhada em meio aos meus pensamentos. Ouço uma boa música, sinto a chuva cair lá fora bem devagar e leio a palavra que alimenta o meu espírito e que me diz: “aquele que beber da água da vida, nunca mais terá sede”.
Penso nas vítimas da região serrana do Rio de Janeiro, impossível ficar indiferente a tanta dor e sofrimento. Centenas de mortos e de desabrigados. Tanta história de lamento que parte o coração até do mais insensível ser humano.
Penso na aliança de Deus com os homens de nunca mais destruir a terra por meio das águas. “Estabeleço a minha aliança convosco: não será mais destruída toda carne por águas de dilúvio, nem mais haverá dilúvio para destruir a terra”. (Gênesis 9:11). O arco-íris no céu anuncia que as chuvas cessaram e é o sinal dessa aliança entre Deus e a humanidade “porei nas nuvens o meu arco, será por sinal da aliança entre mim e a terra” (Gênesis 9:13).
A chuva tem em si essa dualidade, ao mesmo tempo em que traz inundação e destruição, é ela quem faz brotar as plantas e ervas do campo e é ela quem revigora os pastos, torna fecunda a terra e amadurece os frutos.
Depois de um longo período de inverno, de isolamento, de reflexão, o arco-íris despontará no céu e a borboleta sairá do seu casulo para alçar vôo.
Liana Jacinto

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

 
         Luto               
“Melhor é ir a um velório do que a uma festa”. A palavra de Deus é realmente infalível.

É duro ver um ente querido, que foi tão amado e que nos deu a satisfação do seu amor, ali inerte, sem vida, apenas um corpo já sem alma e sem espírito. Aquela imagem fria, gelada não mais se parecia com a pessoa da minha querida avó. Uma senhora esperta, de cabelos grisalhos e sempre pronta a contar uma história dos seus tempos de juventude.

Aquela imagem que há poucas horas dava seu último suspiro me confrontou e me fez pensar, repensar, enfim, refletir, impossível ficar indiferente. Já não havia mais o fôlego da vida. Bem ali naquele quarto de hospital, fiquei paralisada, vendo o corpo ser preparado para o funeral, lembrei de Shakespeare: “sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos”

Mais uma vez eu pude entender o que o sábio Rei Salomão quis dizer. É no velório que repensamos nossas vidas e analisamos o que temos feito de útil aqui na terra. No velório somos lembrados da nossa fragilidade, de nossa mortalidade e que não fomos feitos para este mundo. Em uma festa as pessoas querem apenas viver intensamente o prazer momentâneo e experimentar uma alegria que é tão passageira. No velório não, todos choram a dor da perda, lamentam, mas também meditam a respeito das suas vidas.

Ficamos chocados, impotentes diante da morte, choramos e lamentamos, mas estamos certos de que aquela que se foi está na glória junto ao Criador de todas as coisas. A certeza de que há um lugar no céu preparado para ela é o que nos conforta.

A morte não é o fim, mas o começo da eternidade para os que crêem em Jesus Cristo e entregam suas vidas a Ele. Os que acreditam Nele jamais morrerão, mas passarão da morte para a vida eterna.

Liana Jacinto

sábado, 5 de fevereiro de 2011



Surge repentinamente, como o lobo a espreita de sua presa, insistindo em me atormentar. Inquietando a minha alma e trazendo lembranças que foram lançadas no mar do esquecimento. Talvez não seja por querer. Nem seja coincidência ou obra do destino, apenas algo provável de acontecer, afinal a cidade é pequena.

A hora já está avançada. O relógio na parede já anuncia a chegada de um novo dia. Daqui há poucas horas me levanto e me refaço. Insisto em não aceitar que as lembranças do passado me paralisem. Não permito que sejam abertas novas feridas, elas já foram cicatrizadas. Ô que bom que existe o esquecimento.

Sigo em frente, prossigo para o alvo, sem olhar para trás. Respiro fundo, concentro meus esforços naquilo que me faz feliz e que me traz alegria. Não há mais espaço para a dor e o sofrimento. O fardo não é mais pesado, tornou-se leve. As lágrimas foram enxutas e o coração preenchido pelo sorriso de uma criança.

                    Liana Jacinto

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011


Belly
És obra do Criador, tecida e formada em meu interior. De alma esplêndida, de traços perfeitos como a mais fina flor. Tuas doces palavras refletem a pureza da tua alma e a singeleza dos teus gestos, revelam a doçura do teu coração.
Linda, doce, cabelos da cor do mel.
Para mim és a mais bela entre todas. A mais amada também. Bendito seja o Senhor por ter escrito os teus dias e tê-los confiados a mim. Rogo a Deus que me ensine a conduzir-te pelos caminhos que preservarão a delicadeza de tua alma.
Insisto, persisto e afirmo que Gibran estava errado: Não és filha da ânsia da vida, não! És filha Daquele que te formou, presente dado a quem te gerou.
Quisera eu poder dissipar tuas dores e dissabores mas sei que a voz do Deus Criador, te guiará por onde quer que fores.
           Liana Jacinto

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

        
            "Convém que ele cresça e que eu diminua"

A postura de João Batista quando interrogado por seus discípulos a respeito de Jesus que batizava e todos iam ao seu encontro, demonstra a humildade de seu caráter. Ao invés de sentir-se enciumado, alegrou-se com o crescimento do ministério de Jesus, ficando feliz ao saber que aquele a quem ele anunciara, iniciava seu ministério e muitos O seguiam.
            João Batista deixa um exemplo que deveria ser seguido por todos nós. Embora tenha ele sido o precursor, o responsável por anunciar a vinda do Mestre, jamais se deixou ser confundido, jamais se colocou em uma posição de superioridade pelo fato de ter vindo antes de Jesus, pelo contrário, sempre deixou claro que o Messias era Cristo, a quem não seria digno de desatar as sandálias.
            Ao invés de disputar espaço com Jesus, quando surge o Messias, João Batista sai de cena, certo de que já havia cumprido o propósito para o qual foi chamado. Ele era convicto da sua posição e em momento algum quis ocupar o lugar daquele que viria para trazer a salvação, ensinar a justiça, a misericórdia e libertar a todos do pecado e da opressão. Bom seria se todos nós aprendéssemos com a humildade de João Batista.
            Qual seria a nossa reação se estivéssemos ali no lugar de João sendo questionado pelos discípulos, creio que muitos de nós não perderíamos tempo e enumeraríamos os nossos grandes feitos também. Muitos pensariam: “eu não posso ficar atrás”.
            “O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada”. Esta foi a sábia resposta de João aos seus discípulos. Ele simplesmente reconheceu que Deus é o autor de tudo que recebemos e deixou um tremendo ensinamento para aqueles que o seguiam. E concluiu ainda com uma frase que demonstra a grandeza de sua alma: ”Convém que Ele cresça e que eu diminua”.
Ele não quis ser igual a Jesus e nem tampouco superior a Ele. Diz a Bíblia que em uma certa ocasião estava João na companhia de dois de seus discípulos e vendo Jesus passar, disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus’. Os dois discípulos de João ouvindo-o dizer isto, seguiram Jesus.
Maravilhoso seria se as igrejas da atualidade seguissem o exemplo de João Batista, o que temos visto é o contrário do que ele nos ensinou. A humildade dando lugar à competitividade acirrada. Intencional ou não, o que se tem visto com freqüência é uma competição que beira ao ridículo. Pastores que se digladiam, acreditando que aqueles que os seguem são propriedades suas e que a palavra cuidar só se aplica àqueles que fazem parte da sua “tribo”. A vida do membro da outra “tribo” não lhe diz respeito.
A igreja evangélica contemporânea está carente de Joãos Batistas, basta oferecer um cargo de liderança ao irmão para conhecermos quem ele realmente é. Raríssimos são aqueles que depois de investidos em um cargo de notoriedade na igreja, mantêm-se humildes o suficiente a ponto de desaparecerem e Jesus resplandecer.
Segundo Dr. Russel Shedd  “A mais sutil tentação do mundo é a que propõe reconhecimento e aceitação ao cristão”. E ele diz mais “O poder tem uma facilidade inata de corromper qualquer líder que exerça o direito de manter controle sobre a vida dos outros”. E, é este controle que muitos almejam, até invejam. É preciso ter muito cuidado para não deixar que esse reconhecimento que é atribuído a alguns na igreja não os revista com o manto da soberba, os fazendo acreditar que são superiores aos outros.
Bom seria que quanto mais reconhecimento fosse a nós outorgado, mais nos tornássemos humildes a ponto de considerarmos os outros superiores a nós mesmos.

Liana Jacinto