domingo, 19 de junho de 2011


                       
                        O PODER DA MÚSICA


   Muitos desconhecem ou até mesmo ignoram o poder de influência que a música pode exercer no estado de espírito do homem. A arte tonal é uma das mais, ou talvez a mais poderosa das artes, capaz de atuar sobre nós de forma a acelerar ou retardar; regular ou desregular as batidas do coração, relaxando ou irritando os nervos e conforme pesquisadores, influindo até mesmo na pressão sanguínea, na digestão e no ritmo da respiração.
   David Tame em seu livro, “O poder oculto da música” nos alerta: “Os poderes da música são multifacetados, às vezes misteriosamente potentes e, até agora, não de todo compreendidos. Podem ser usados ou abusados. Desprezamos o emprego consciente, construtivo, desses poderes em nosso próprio prejuízo. Ignoramo-los para nosso próprio perigo”.
   David explica que hoje em dia é dada pouca atenção à função da música dentro da sociedade, ao contrário do que acreditavam as civilizações antigas. Os chineses, por exemplo, entendiam que a música era capaz de envolver ou degradar completamente a alma do indivíduo; fazer ou desfazer civilizações inteiras. Estavam convencidos de que o indivíduo é capaz de interiorizar a música, influindo desse modo, o ritmo de pensamentos do homem, afetando suas emoções e até mesmo na harmonia de sua saúde corporal.
   Tame nos conta que um antigo imperador da China Shi Shun (2255-2206 a.C) empregava uma forma bem diferente de passar revista em seu reino e certificar-se de que tudo estava em ordem. Não o fazia verificando os livros de contabilidade das regiões ou observando o modo de vida da população, nem tampouco entrevistando os funcionários que tinham posição de autoridade, fazia, portanto, percorrendo os diferentes territórios e experimentando as alturas exatas de suas notas musicais. Embora conhecesse outros métodos para avaliar o estado da Nação, acreditava ser mais importante ouvir e verificar as cinco notas da antiga escala musical chinesa. Ordenava que viesse à sua presença os oito tipos de instrumentos musicais conhecidos na China e que estes fossem tocados. Escutava ainda as canções populares locais a fim de verificar se estavam em harmonia com os cinco tons.
   Na filosofia chinesa a música era a base de tudo, para eles a alma de uma civilização está no tipo de música que nela se executa. Como ficariam os chineses se ouvissem muitas das músicas compostas atualmente em nosso país.
   Superstição primitiva ou não o fato é que atualmente poucos dão à música o seu verdadeiro valor. Muitos a vêem como mero entretenimento, incapaz de causar alguma influência concreta à mente e ao coração do ouvinte. “Nenhum deles a concebia tal como hoje se concebe, como sendo apenas uma forma intangível de arte, de escassa importância prática.” acrescenta David.  Afirmavam os chineses ser a música uma força tangível que pode ser aplicada com o fim de criar mudança, para melhor ou para pior no caráter do indivíduo e sociedade como um todo.
   Se a teoria dos antigos de fato procede, quais danos certas músicas já não terão causado às nossas personalidades sem que tenhamos nos dado conta disso? Se realmente os padrões da música, afetam os padrões da vida, como acreditavam os antigos, seria bom que tivéssemos um maior cuidado ao eleger determinado gênero de música para ouvir, para o bem da nossa própria edificação.
   Perguntar-se-iam os mais céticos, será a música realmente capaz de dirigir e influenciar a natureza emocional do homem? Será ela capaz de afetar o nosso corpo físico?
   Liszt em seu ensaio “Sobre a música de igreja no futuro” nos diz: “A música possui um grande poder de comover e inspirar”. Pesquisas mostram que a música influi na digestão, nas secreções internas, na circulação, na nutrição e na respiração. Até as redes nervosas do cérebro são sensíveis aos princípios harmônicos, afirmam os pesquisadores. “Descobriram os pesquisadores que acordes consonantes e dissonantes, exercem um profundo efeito sobre o pulso e a respiração do homem, influindo na velocidade, regularidade ou irregularidade de seu ritmo. A pressão sanguínea é abaixada pelos acordes ininterruptos e elevada pelos acordes secos, repetidos” declara Tame.
   Aos amantes do jazz e do rock, uma má notícia: pesquisas revelaram que os ritmos irregulares desses dois estilos musicais tiram das batidas do coração seu ritmo perfeito, causando mal à digestão, é contra indicado para quem dirige automóvel, além do que eleva a pressão, sendo nociva em casos de hipertensão preexistentes.
   Para os pesquisadores o fato de determinado ritmo nos agitar ou nos acalmar está diretamente relacionada à maneira com que a freqüência de suas batidas se relaciona com a pulsação cardíaca normal. Por exemplo, um ritmo que tenha um tempo igual ao da pulsação normal do coração, nos acalma, já um ritmo mais lento que a pulsação cardíaca, gera tensão, como se o corpo se preparasse para uma iminente agitação da cadência musical até a cadência cardíaca normal. Em contrapartida, os ritmos agitados, elevam a pulsação cardíaca, provocando excitação emocional, uma vez que, segundo os pesquisadores, ritmos acelerados liberam na corrente sanguínea substâncias químicas que excitam o organismo. Sinto isso todas as vezes que ouço Reaching do Leeland, dá vontade de voar.
   Procedente ou não tais teorias, não há como negar que a música nos afeta de alguma maneira, com o incrível poder de nos emocionar, nos fazendo chorar ou sorrir; trazendo melancolia ou alegria às nossas almas, buscando bem do interior a nostalgia mais profunda e escondida. A música é capaz de despertar no ouvinte diversos sentimentos: excitação e euforia; depressão e melancolia; agitação ou letargia. Quantos não já se sentiram melancólicos logo depois de escutarem determinada canção? A música é capaz de exercer uma influência boa ou ruim sobre as nossas emoções e está longe de ser inofensiva como acreditam alguns.

   Um episódio curioso foi protagonizado pelos Rolling Stones no festival de Altamont, em 1969. Ao tocarem a canção Sympaty for the Devil, o grupo contratado para fazer a segurança do evento, cujo nome bem sugestivo era Hells Angels, atacou violentamente o público num acesso de fúria e muitas pessoas ficaram gravemente feridas e outras morreram. Em entrevista Mick Jagger, afirmou: “coisas assim acontecem todas as vezes que toco essa canção”.
   Não há como negar que o estado de espírito do músico é passado através de sua música e isso nos afeta de alguma forma. Através das composições, parte da consciência do músico é assimilada pelo público. “Os músicos sempre expressam através de suas execuções, o nível de harmonia ou desarmonia psicológica que tem dentro de si. Isso é inevitável. Por mais que tentemos, não podemos deixar de expressar na música a realidade do nosso estado interior, ainda que de maneira muito sutis” afirma Tame. O músico sempre expressará através de sua arte aquilo que de fato acredita, não há como fugir disso.
   Acredito que a música tem um imenso poder de nos afastar ou de nos aproximar de Deus. Além do que, é capaz de conduzir a nossa mente para pensamentos bons ou ruins, fazendo fluir do nosso interior sentimentos nobres ou decadentes, capaz de tocar fundo a nossa alma. A música tem o poder de nos fazer rememorar o passado, relembrando situações que aconteceram há anos, brotando do nosso interior os mais profundos sentimentos. Há canções revigorantes que enchem o nosso espírito de regozijo e paz, há portanto, aquelas que nos deixam vazios e de espírito abatido.  Como asseverou Howard Hanson, diretor da Eastman School of Music: “a música pode ser calmante ou revigorante, enobrecedora ou vulgarizadora, filosófica ou orgíaca. Tanto tem poderes para o mal quanto para o bem”.  
Por Liana Jacinto