quinta-feira, 11 de agosto de 2011

                                         
             
           A síndrome da perfeição

No início da minha conversão em Cristo, exigia muito de mim, na verdade eu não me permitia falhar. Sentia-me vigiada o tempo inteiro, uma vigilância exercida por mim mesma. Não admitia erros e a cada deslize, ficava deprimida e me penitenciava. Chegava a pensar que eu não era merecedora do amor de Deus, por ser tão falha. Muito jovem e imatura, eu sempre exigia de mim, além do que podia corresponder. Queria me encaixar no estereótipo do cristão perfeito, que fala baixinho e sempre mantêm a calma, quase nunca se irrita e aparenta ser infalível. Mas como corresponder às minhas próprias expectativas de perfeição? Demorei muito para entender que para ser uma mulher de Deus não precisava negar minhas fraquezas e minhas imperfeições.
Muitos de nós temos a idéia, de que para sermos amadurecidos, adultos e respeitados, temos de renunciar a todos os sentimentos e esconder as nossas falhas. Muitas das vezes pensamos que para sermos considerados verdadeiros homens e mulheres de Deus, não devemos nunca admitir uma necessidade ou uma atitude errada. Queremos ter sempre as respostas e sempre parecer que as coisas estão sob controle. “Talvez quando crianças tenhamos sido ensinados que é fraqueza ou covardia admitir os desapontamentos, o sofrimento, a tristeza, o desânimo, a ira ou até mesmo a infelicidade. Mas o que aprendemos foi um conceito errado”, explica Joan C. Webb, autora de vários livros e artigos, entre eles, Meditations for christians who try to be perfect; e The Relief of Imperfection: For Women Who Try Too Hard to Make It Just Right.
Joan menciona o exemplo do rei Davi que ao liderar seu povo, alcançou muitas vitórias e as nações olhavam para ele, portanto, ele cometeu inúmeros erros e experimentou a rejeição de pessoas de sua confiança. Ele sentiu raiva, dor, ciúme, enfim, sentimentos como de todo homem comum. “Davi foi um homem de verdade que se permitiu pensar, sentir e ser. Nos Salmos a sua aceitação da realidade e os sentimentos conseqüentes de desapontamento e dor levaram-no repetidas vezes a Deus. E Ele o chamou de ‘homem segundo o meu coração’ Atos 13:22. ” acrescenta Joan.
Levei muito tempo para entender que Deus não exige que sejamos perfeitos, mas deseja que assim como Davi, tenhamos um coração disposto a acertar e a obedecê-lo. Foi exatamente essa a diferença desse homem que foi considerado ‘segundo o coração de Deus’. Embora tenha falhado muito, cometendo adultério, homicídio, ele sempre teve um coração arrependido e sempre estava disposto a pedir perdão. “Deus está mais interessado na fé e vontade de uma pessoa do que se tomam decisões sem falhas ou produzem planos perfeitos” ensina Joan em Ordinary Human Stuff.

Joan comenta que existem pessoas que acreditam que nunca serão boas o suficiente para que Deus possa usá-las. Há outras, em contrapartida, que pensam que se provarem para Deus que são extraordinárias, Ele as usará em razão dos seus talentos. “Deus não diz: ‘Você é um super-homem, eu ligo pra você’ ou ‘Ela está sempre bem, vou enviá-la. ’ Deus usa as pessoas comuns deste mundo, como eu e você.”, explica.

Não quero fazer apologia ao pecado e a viver uma vida desregrada, mas dizer que para sermos cristãos responsáveis e amadurecidos não precisamos carregar nos ombros o peso de nunca poder falhar. E como diria a música: “Quem se diz muito perfeito, na certa encontrou um jeito para não ser de carne e osso.”
Já vi muitas pessoas que se distanciaram totalmente de Deus simplesmente por não suportarem seu próprio radicalismo e por não terem conseguido corresponder à perfeição que cobraram de si mesmas. Admitir nossos erros e aceitar nossas limitações e imperfeições é um sinal de maturidade e de que estamos prontos para lidar com os nossos sentimentos e das pessoas que estão à nossa volta.
Por Liana Jacinto